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UMA FINA CAMADA DE GELO a partir de George Orwell



Contornos da dramaturgia


No primeiro apêndice a Homenagem à Catalunha, logo na entrada, George Orwell respondia a quem eventualmente lhe perguntasse porque se alistara na milícia do POUM durante a Guerra Civil espanhola: Para lutar contra o fascismo, a favor da simples decência. E todavia, passadas oito décadas, continuamos a combater os mesmos fantasmas do totalitarismo!


É exatamente deste contexto político que colhemos a intenção para este projeto: contribuir para uma discussão pública, através dos dispositivos cénicos, que sublinhe a urgência de defesa e consistência dos regimes democráticos europeus.


Somos movidos pela intenção ideológica de salvaguarda aos traços fundamentais do desenho geo-político saído dos escombros militares da Segunda Guerra Mundial - a Aliança Atlântica, cujos valores estão patentes em sociedades livres, transparentes, justas e igualitárias, sustentadas em Estados de Direito e de pendor Social, com plena liberdade de expressão e mediadas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Herança que nos vem da Luta Francesa em 1789.


Para este trabalho incidimos numa dramaturgia ampla, sustentada nas referências literárias e biográficas de George Orwell: o seu percurso pessoal, descrito nos seus diários, onde foi dando nota das suas vivências circunscritas às gentes e lugares por onde andou, em épocas diferentes e em nacionalidades distintas (Diários).


Orwell, o ensaísta, que foi manifestando uma posição dissidente face às medidas promulgadas por sucessivos governos britânicos em momentos críticos de depressão económica e conflito bélico internacional.

O escritor, que viveu na penúria, experimentando trabalhos precários, em situações laborais não tributadas e sem quaisquer direitos sociais; convivendo diretamente com as camadas indigentes da população (Na Penúria em Paris e em Londres).

O mesmo homem que contactou com o lado mais degradante da vida das classes empobrecidas, partilhando casa com mineiros, atento às condições domésticas das camadas socialmente excluídas, e estudando as condições em que os operários viviam no norte fabril de Inglaterra. Condições decorrentes de uma Revolução Industrial decretada de cima para baixo do tecido populacional, criando um expoente de riqueza no topo e impondo uma crua indigência social nas suas bases (O Caminho Para Wigan Pier).


Orwell viveu as duas Guerras Mundiais, compreendeu os apêndices burocráticos, rígidos, de estados militarizados - o estalinismo e o nazismo. Esteve presente na Guerra Civil de Espanha, onde combateu contra o fascismo de Franco (Homenagem à Catalunha).

Conheceu a educação rigorosa dos colégios de elite de que foi aluno, recebendo uma preparação musculada para defesa do Império Britânico (Livros e Cigarros), por onde passou como polícia em serviço na colónia inglesa da Birmânia (Dias Birmaneses). Trabalho que imediatamente repudiou.


Com um estilo considerado simples, por vezes coloquial, Orwell estabeleceu uma evidente empatia com os seus leitores, deixando no sentido geral dos seus textos uma responsabilidade histórica para quem os lê hoje, apelando a uma participação cívica, politicamente ativa e comprometida.


É justamente esta responsabilidade intelectual, esta vontade de decência ética, que designamos como pedra de toque para este projeto – a decisão de Orwell em pugnar por regimes sociais democratas, visando a essa luz uma organização política das sociedades ocidentais.

Em suma, centramos os eixos do nosso trabalho na obra de George Orwell, revisitando, assim, os contornos da história contemporânea nas suas manifestações ideológicas, sociais e políticas.

Construímos um espetáculo de narrativa descontinua, com palavras e silêncios organizado.


– Mário Trigo



Tempo de dramaturgia

Fotografias de Tânia Cadima


Tempo de ensaios

Fotografias de Tânia Cadima


O espetáculo

Fotografias de Alípio Padilha


Ficha artística e técnica


Texto: A partir de George Orwell Encenação: Mário Trigo com Jaime Rocha Dramaturgia: Jaime Rocha e Mário Trigo Interpretação: Ana Freitas, Filipe Araújo, Inês Ferreira da Silva, Miguel Coutinho e Victhor Börrén Dias Espaço Cénico: Nisa Eliziário Figurinos: Joana Saboeiro Direção Técnica: ShowVentura Teaser: Inês Oliveira Design Gráfico e Fotografia: Tânia Cadima Fotografia de Cena: Alípio Padilha Gestão de Apoios: Joana Ferreira

Produção: Daniela Sampaio

Criação: HIPÉRION Projeto Teatral

Espetáculos: 12, 13, 17, 18, 19 e 20 de Novembro 2020 no Centro Cultural da Malaposta


Este projeto teve o apoio da Fundação GDA.






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