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de Walt Whitman

Na Casa de Teatro de Sintra 

1, 2, 3 JUNHO /  21h30

Contornos da dramaturgia

Nós somos os adormecidos de Walt Whitman, os que se levantam à passagem do vento, os que não se deixam vencer. Como os leões que se fingem de cordeiros, como as formigas que atuam em grupo, somos os que transportam o mundo, a natureza, as coisas vivas que dão alma ao universo. Somos todos e um, somos os que vão acordar para estar presentes no dia de amanhã. Levamos connosco o sangue de uma espécie de guerreiros, gostamos de estar adormecidos porque gostamos de acordar, trazer dos sonhos o melhor da humanidade.

“Errante e confuso, perdido em mim mesmo, pouco feliz, contraditório,

Vacilo, olho fixamente, curvo-me e paro”.

A poesia não é uma ciência, nem tem moral, como referia Baudelaire, contemporâneo de Whitman, sob pena de morrer. A poesia é a poesia, ponto final. Podemos adormecer com ela dentro, levá-la para a morte, porque a morte não tem ciência, nem moral. A morte é a morte, ponto final. A morte é o fim. Não tem pensamento, nem retorno. Assim a poesia.

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Somos os que saudamos o poeta como o fez Álvaro de Campos na sua Saudação a Walt Whitman: “Saúdo-te Walt, saúdo-te meu irmão (…) de mãos dadas dançando o universo na alma”. Fernando Pessoa que considerou o poeta de Os Adormecidos como “o cantor concreto do absoluto, moderno e eterno”, autor para quem cada erva, cada pedra, cada homem é o universo.

No prefácio à edição portuguesa de Folhas de Erva (tradução de Maria de Lourdes Guimarães, 2002), o poeta e ensaísta Fernando Guimarães escreve que Whitman (1819-1892) tem uma visão complexa que une o “eu pessoal ao eu universal” e que essa visão do mundo é uma visão poética, uma visão unificadora e estruturante de alguém que assumiu a poesia como um destino e ao mesmo tempo como um universo.

“A alma é sempre bela,

O universo está bem ordenado, cada coisa tem o seu lugar, (…)

Os adormecidos são muito belos, deitados e nus, (…)

De manhã ajudo a apanhar os mortos e a colocá-los em fila num celeiro”.

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Contemporâneo de Kafka, Mallarmé, Melville, António Nobre, Poe ou Dostoievsky, a obra de Whitman abrange uma imensidão de temas como o amor, a natureza, o sexo, a morte, a camaradagem, Deus, bem como o progresso e a democracia, temas que fazem parte de um núcleo de pensamento global sintetizado em três palavras: Eu, Nação, Universo. Para dar esse olhar humanizado face ao mundo, enquanto poesia, dirige-se, antes de mais, à força dos sonhos.

“Sonho no meu sonho todos os sonhos dos outros que sonham,

E transformo-me nos outros que sonham”.

É nesse lugar impalpável das profundezas da emoção humana que o poeta descobre o espírito, se confronta com o caos e a confusão da mente e destapa os factos que sublinham o sofrimento e a morte. Mergulharmos nos sonhos, entrando na noite, para nos aproveitarmos dessa liberdade de sonhar e para que, nessa visão adormecida, possamos confrontar o horror que o “eu” acordado não conseguiria olhar de frente.

“Agora penetro na escuridão, novos seres aparecem,

A terra recua diante de mim na noite,

Vi o que era belo e vejo que aquilo que não é terra é também belo”.

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O próprio poeta diz ao que vem: “Propus-me representar sem qualquer desânimo a humanidade tal como ela é. Pretendi compor um conjunto de poemas que respondessem à natureza física, emocional, moral, intelectual e espiritual de um homem. A título de exemplo, este homem sou eu mesmo”.

Autor da modernidade, precursor do verso livre, muito colado ao ritmo da fala, poeta, editor, jornalista, tipógrafo, voluntário em hospitais na Guerra Civil Americana, funcionário, muitas vezes censurado e considerado indecente, Walt Whitman possui um discurso poético estranho e assombroso, com um fluxo de imagens avassalador, que vai às profundezas da psique, à representação da realidade e do humano, por vezes de uma forma excêntrica, o que levou alguns críticos e ensaístas a considerar Os Adormecidos como único poema surrealista do século XIX.

“Sou o actor, a actriz, o votante, o político,

O emigrante e o exilado, o criminoso que estava no banco dos réus,

Aquele que tem sido famoso e o que será amanhã,

O que gagueja, a pessoa bem constituída, a pessoa destruída e debilitada.”

Whitman é o poeta da sua geração que mais elevou a condição do homem moderno, celebrou a natureza humana e a vida fazendo-as sair da modorra dos dias, cortou com as convenções, identificou-se com a evolução da democracia americana, lutou por um ideal panteísta o que permitiu ao “eu” de cada um de nós uma dimensão cósmica, por vezes visionária, incompreendida no seu século, mas solidamente projetada no futuro.

Jaime Rocha

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Ficha artística e técnica

Texto

Walt Whitman

 

Tradução

Maria de Lourdes Guimarães

(Relógio D’Água Editores)

Encenação e Dramaturgia

Mário Trigo com Jaime Rocha


Interpretação

Catarina Rodrigues

Nisa Eliziário

Espaço Cénico e Figurinos

HIPÉRION Projeto Teatral

Sonoplastia

Carlos Santos

Direção Técnica

ShowVentura


Design e Fotografia

Tânia Cadima


Gestão de Apoios

Joana Ferreira

Produção

HIPÉRION Projeto Teatral

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Apoio Financeiro à Criação:
Fundação GDA

Apoio à Residência:
Centro Cultural da Malaposta
Minutos Redondos
Câmara Municipal de Odivelas


Colaboração:

Casa Jaime Rocha
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1, 2, 3 de Junho 2023

Quinta a Sábado às 21h30

M/12

Na Casa de Teatro de Sintra

(Chão de Oliva)

Rua Veiga da Cunha, 20
2710-627 Sintra

Informações e reservas:

+351 21 923 37 19

Âncora 1
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