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AZZEDINE

de JAIME ROCHA

no AMAS* / Cacém
21 e 22 SET 2024
Sáb. 21h / Dom. 16h

* Auditório Municipal António Silva
   Inserido no Festival MUSCARIUM#10

Contornos da dramaturgia

A luta continuada entre Israel e a Palestina oprimiu emocionalmente a pessoa de Jean Genet, pela devastação humana inerente, sim, mas principalmente pelo facto, perturbador, do seu filho adotivo seguir uma orientação terrorista que o movia para ações suicidas, compelindo inocentes.

O eixo deste espetáculo será uma peça cilíndrica de um confronto militar que fez a rotação de muitas gerações, soterrando vidas.


São causas deste confronto credos religiosos não tolerados, desígnios políticos incompatíveis, interesses territoriais sem mapeamento negociado, arcaísmos puxando emoções escamadas.


A diplomacia vem-se fazendo por corredores com alçapões inimagináveis. Resta à Comunidade Internacional apelar resolutamente para um acordo de paz que reconheça definitivamente dois Estados.

AZZEDINE_Ensaio

À parte o aço dos blindados, decorre em cena uma segunda linha narrativa centrada numa pulsão surrealizante que visa dissecar o cadáver Genet; amortalhado na causa palestina, agora literariamente reificado, recuando à condição de ‘bastardo’, de ‘ladrão’ — que o mesmo é dizer pouco tempo depois de um primogénito derramamento.


Nas dobras do tempo, as vidas, de Genet e da Palestina, encontraram-se num ponto histórico onde tudo desabou.

Teriam sido uma tentativa de aproximação a um texto de caminhada lenta, comedida, em direção ao poema.

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Mário Trigo

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Jean Genet, o homem, a escrita, o mundo, a guerra.

Uma paisagem de chão e mar. Um túmulo.​

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Jean Genet regressa à vida com o objetivo de reescrever a sua primeira peça, Haute Surveillance — Alta Vigilância, 1949.

Este regresso que traz para o palco um Genet em carne e osso, enérgico, criativo, torna-se também simbólico quando se descobre que foi motivado por uma força oculta, uma convocação extraordinária: a de Azzedine, a criança marroquina, agora adulta, cuja família Genet adaptou até ao fim da sua vida.

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O escritor tem a imperiosa necessidade de responder às dúvidas de Azzedine, dúvidas que assentam sobretudo na questão palestiniana, tema muito caro a Genet. Para Azzedine, a vinda de Genet, mais do que um tributo, é a última oportunidade de obter uma resposta, saber qual a solução para a felicidade, para a paz.​

AZZEDINE Ensaio

Ao reescrever a peça Haute Surveillance, Genet tenta emendar as falas das personagens — Yeux-Verts, Maurice e Lefranc… pretende traçar conflitos trazendo para o texto a personagem feminina, Solange, ausente na peça original. As personagens revoltam-se, ameaçam suicidar-se em coletivo, na prisão.​

​Genet apercebe-se do desperdício do seu esforço, desinteressa-se, abandona a peça e, pressionado por Azzedine, pega noutro texto seu, Quatre Heures à ChatilaQuatro Horas em Chatila. O diálogo com Azzedine traz-lhe à memória o sofrimento do povo palestiniano, a crueldade dos massacres e da guerra que agora se inscrevem numa realidade mais sofisticada, de guerra cirúrgica e de atentados terroristas, insuportável para Genet.

Azzedine interage com as outras figuras. Todas têm em comum o ódio contra um sistema assente no comportamento violento, a autodestruição como arma de ameaça. O empenho de Azzedine na causa palestiniana desloca o diálogo para os temas do suicídio religioso, do terrorismo e dos conflitos entre civilizações. Mas a obsessão fanática, fundamentada numa recompensa religiosa post mortem, é, para Genet, um procedimento incompreensível, um dado novo e condenável naquela luta.

AZZEDINE Ensaio

Genet procura algum consolo no seu último livro, Un Captif Amoreux — Um Cativo Amoroso, mas a memória dorida, a sua decadência física, fazem-no voltar para o túmulo; a lembrança da doença, o cancro na garganta, turvam-lhe o pensamento e, esgotado, afasta-se.

Azzedine antecipa-se, expõe o seu testamento político ao tempo que se apropria do túmulo, representação de imortalidade. Genet é forçado a manter-se no palco, sem possibilidade de retorno.

Convocada para a vida, a figura de Genet reencontra na densidade de criação a tarefa que sempre o obcecou: levar um texto à sua perfeição.

Excluído da morte, resta-lhe continuar a sua obra, escrevendo indeterminadamente como que tomando para si a maldição de Sísifo.

AZZEDINE Ensaio

Se Genet causou escândalo continuado em vida, a sua personalidade e a sua obra não perderam hoje, em tempos tão diferentes, o seu extremo vigor provocatório. A beleza da escrita não atenua, antes vem reforçar a inconveniência das posições políticas. Genet é talvez mais maldito para nós, do que o foi para os seus contemporâneos.

Já não vivemos com bandeiras, mas com medos. Tomar Genet para motivo de uma peça é fatalmente convocar o que tememos. É confrontarmo-nos com a desesperança deste tempo em que o vazio ocidental se encontra com o fanatismo do oriente num combate que não tem um campo de batalha conhecido.

E é, ao mesmo tempo, abrir a possibilidade de uma reflexão, entre o texto, os atores e os espectadores, sobre os dias incertos que atravessamos, centrando o debate na guerra, na invasão arbitrária de uma potência sobre um país vizinho, nos seus terríveis efeitos humanos — o medo, a fome, a presença da morte, a fuga em jeito de expropriação.

Considerado por muitos um dramaturgo destacado, Jean Genet concebeu igualmente uma obra narrativa que constitui um poderoso imaginário com as suas implicações autobiográficas. Puxá-lo para nós, para o palco, não pode ser apenas um projeto literário, ou estético, ou mesmo político. Deverá ser um ato de envolvimento e de risco.

Jaime Rocha

AZZEDINE Ensaio


Ficha artística e técnica

Texto

Jaime Rocha

Dramaturgia e Encenação

Mário Trigo com Jaime Rocha


Interpretação

Anilson Eugénio

Carolina Figueiredo

Mariana Capela

Miguel Coutinho

Philippe Araújo

Tiago Duarte

Espaço Cénico

Pedro Silva

Curadoria Figurinos

Nisa Eliziário

Desenho Luz

Mário Trigo

 

Design e Fotografia

Tânia Cadima

Gestão Apoios

Joana Ferreira

Produção

HIPÉRION Projeto Teatral

Apoio à Criação em Residência​

teatromosca / Festival MUSCARIUM

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Apoio Financeiro à Criação

dgartes

Apoio​

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AZZEDINE

de Jaime Rocha

 

21 e 22 Setembro 2024

Sáb. 21h / Dom. 16h

M/16​​

No AMAS – Auditório Municipal António Silva

 

Shopping do Cacém,

Rua Coração de Maria nº 1

2735-470 Cacém

Informações e reservas:

+351 91 461 69 49

geral@teatromosca.com 

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Âncora 1
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